TEA: Saiba tudo sobre Transtorno do Espectro Autista
Há alguns aspectos fundamentais para uma compreensão clara deste conceito. Saiba tudo sobre o Transtorno de Espectro Autista, TEA.
O TEA (Transtorno do Espectro Autista) ou autismo causa prejuízos na comunicação, comportamento e socialização. O termo autismo foi visto pela primeira vez em 1943, pelo médico Leo Kanner, que estudou 11 crianças com dificuldades em se relacionar. No entanto, há alguns aspectos fundamentais para uma compreensão clara deste conceito. Saiba tudo sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Antiga classificação do Autismo
Era chamado de autismo clássico às crianças que apresentavam dificuldades nas áreas de comunicação, socialização e comportamento. Tal categorização do TEA era: leve, moderado e grave. Hoje, as nomenclaturas já foram atualizadas e veremos logo abaixo. Dentro destas classificações, era extremamente comum falarmos da Síndrome de Asperger, que era um diagnóstico dado diferente do TEA. Hoje, entende-se que a síndrome de Asperger está dentro do TEA.
Classificação atual do TEA
Atualmente, a classificação do autismo é apresentada pelos níveis de suporte: I, II e III. Esses níveis indicam a quantidade de apoio necessário para a criança em sua vida diária. No nível I, a criança requer pouco suporte; no nível II, a necessidade é moderada; e no nível III, a necessidade de apoio é significativa.
Essa classificação é encontrada no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), assim como no CID-11 (Classificação Internacional de Doenças), que fornece o código referente ao transtorno.
A partir da última revisão feita no DSM, o autismo passou a ser denominado Transtorno do Espectro Autista (TEA).
De acordo com o CID 11 a classificação do TEA entende-se a partir do código 6A02. Há especificidades dentro do código, veja:
6A02.0 – Transtorno do Espectro do Autismo sem Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e com leve ou nenhum comprometimento da linguagem funcional.
6A02.1 – Transtorno do Espectro do Autismo com Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e com leve ou nenhum comprometimento da linguagem funcional.
6A02.2 – Transtorno do Espectro do Autismo sem Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e com linguagem funcional prejudicada.
6A02.3 – Transtorno do Espectro do Autismo com Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e linguagem funcional prejudicada.
6A02.5 – Transtorno do Espectro do Autismo com Transtorno do Desenvolvimento Intelectual e ausência de linguagem funcional.
6A02.Y – Outro Transtorno do Espectro do Autismo especificado
6A02.Z – Transtorno do Espectro do Autismo, não especificado
Critérios de classificação do TEA segundo DSM 5
Considera-se para o diagnóstico do autismo duas áreas: déficit na comunicação social e padrões repetitivos de comportamento e restrito (letra A e B), seguido dos demais critérios (letras C, D e E).
A. Déficits Persistentes na Comunicação Social e Interação Social
Para o diagnóstico de TEA, deve haver déficits persistentes em todas as três seguintes áreas:
- Déficits na reciprocidade socioemocional (capacidade de uma pessoa participar das interações sociais de forma mútua.
- Dificuldades em iniciar ou responder a interações sociais. Poucas ou nenhuma tentativa.
- Pouca ou nenhuma troca de interesses, emoções ou sentimentos.
- Falta de iniciativa em interações sociais.
- Déficits nos comportamentos de comunicação não verbal utilizados para a interação social:
- Pouco ou nenhum contato visual e linguagem corporal.
- Dificuldades em compreender e usar gestos.
- Falta de expressões faciais e comunicação não verbal.
- Déficits no desenvolvimento, manutenção e compreensão de relacionamentos:
- Dificuldades em ajustar o comportamento a diferentes contextos sociais.
- Problemas em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos.
- Pouco ou nenhum interesse em pessoas da mesma idade.
B. Padrões Restritos e Repetitivos de Comportamento, Interesses ou Atividades
Para o diagnóstico, é necessário que pelo menos dois dos seguintes sintomas estejam presentes:
- Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos:
- Movimentos motores repetitivos, como bater palmas ou balançar o corpo.
- Uso repetitivo de objetos (por exemplo, enfileirar brinquedos).
- Fala repetitiva, como ecolalia ou uso de frases idiossincráticas.
- Insistência na mesmice, ação inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal e não verbal:
- Grande sofrimento em pequenas mudanças. Exemplo: mudança de trajeto para ir a lugares conhecidos.
- Dificuldades em transições. Exemplo: Mudança de escola, de casa.
- Padrões de pensamento rígidos.
- Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco:
- Forte fixação por objetos incomuns. Exemplo: rodas de veículos.
- Preocupação excessiva com interesses restritos.
- Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente:
- Reação excessiva a sons ou texturas específicas. Exemplo: barulho de motos, não gostar de tocar na grama, reclamar do banho quente, não tolerar diferentes texturas de camisetas, seletividade alimentar.
- Fascinação por luzes ou objetos giratórios.
- Excesso de movimento.
- Pouca consciência ao uso de força para mais ou menos.
- Irrita-se ao procurar objetos perdidos.
- Sensível a cheiros comuns.
C. Os sintomas devem estar presentes no período inicial do desenvolvimento.
Os sintomas devem estar presentes desde a infância, ainda que possam não se manifestar completamente até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas do indivíduo, ou podem ser mascarados por estratégias compensatórias aprendidas.
D. Os sintomas causam prejuízos clinicamente significativos no funcionamento social, ocupacional ou outras áreas importantes.
Os déficits devem prejudicar a vida cotidiana, incluindo interações sociais e desempenho no trabalho ou escola.
E. Esses distúrbios não são mais bem explicados por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou atraso global do desenvolvimento.
Embora os transtornos do desenvolvimento intelectual e o TEA frequentemente co-ocorram, os déficits na comunicação social devem ser além daqueles explicados pelo nível geral de desenvolvimento.
Podemos ressaltar e informar brevemente sobre o autismo regressivo, que é um fenômeno em que uma criança, após um período de desenvolvimento normal ou quase normal, apresenta uma perda significativa de habilidades adquiridas, como a linguagem e a socialização.
Quais são os sintomas na criança com autismo?
Portanto, os sintomas do autismo se relacionam com os critérios diagnósticos. Alguns sintomas conhecidos mais presentes são:
- Ecolalia imediata ou tardia.
- Interesse restrito.
- Dificuldade à mudanças.
- Dificuldade em estabelecer vínculos.
- Mover-se demais ou de menos.
- Evitar contato social.
- Comportamento de isolamento.
- Movimentos repetitivos em qualquer contexto.
- Gritos.
- Mãos nos ouvidos.
- Seletividade alimentar.
- Baixa percepção corporal.
- Insegurança gravitacional.
- Etapas de praxia (ideação, planejamento motor e execução) falhas. Ou seja, dificuldade na criação, no sequenciamento de ações e execução motora.
- Busca por estímulos.
- Comunicação com falhas ou ausência dela.
- Crises sensoriais e emocionais.
- Irritação e nervosismo.
Sintomas físicos apresentados em autistas
O autista não apresenta sintomas físicos, ao menos que tenha uma deficiência física. Porém, se a parte sensorial não for trabalhada pode causar encurtamentos no tornozelo por andar na ponta dos pés.
Causas do autismo
Ainda não existe certeza absoluta sobre as causas do autismo, mas vários estudos apontam para diferentes possíveis fatores, incluindo:
- Fatores genéticos e ambientais.
- Uso de medicamentos para epilepsia durante a gestação, assim como evidências mais recentes sugerem o uso de Tylenol e exposição a pesticidas durante a gravidez.
- Idade avançada dos pais.
- Estresse durante a gestação.
- Mutação genética (pesquisas em andamento na Universidade de São Paulo).
- Exposição à radiação.
- Mutação no momento da fecundação.
- Infecções durante o primeiro trimestre de gestação.
- Possível predisposição genética.
- Neuroinflamação.
Esses fatores são objeto de estudo em várias instituições de pesquisa em todo o mundo, visando entender melhor a complexidade do autismo e suas origens.
Comorbidades no autismo infantil
A criança com autismo infantil pode apresentar alterações sensoriais desde os primeiros meses de vida, como: não gostar de ficar enrolada em cobertores, não apreciar carinho, chorar grande parte do tempo, evitar contato com os pés e mãos no chão (engatinhando com os joelhos) e ser seletiva quanto aos sabores de papinhas e/ou frutas.
O Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) ou Disfunção de Integração Sensorial (DIS) – nomenclatura mais utilizada atualmente – é uma das comorbidades mais comuns no autismo. Estima-se que até 95% das crianças com autismo possam ter DIS. Além disso, há diversas outras comorbidades associadas ao autismo que podem requerer avaliação específica para confirmação. Podemos incluir entre essas comorbidades: TDAH, epilepsia, Deficiência Intelectual, apraxia da fala, depressão, ansiedade, TOD (Transtorno Opositor Desafiador), TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), distúrbios de sono e alimentares. Para mais detalhes, consulte o estudo completo realizado em 2024 através do texto: Autismo: Comorbidades e condições associadas.
Como é realizado o diagnóstico?
O diagnóstico é clínico, através de avaliação multidisciplinar. O olhar observador de uma pessoa frente a uma criança com TEA é importantíssimo. Ela apresentando os sintomas acima citados ou entendido que a criança tem um desenvolvimento não esperado para a sua idade é importante seguir com encaminhamentos.
Geralmente o pediatra é o primeiro a ser informado de possíveis alterações no desenvolvimento quando a família tem consciência do mesmo. Caso contrário tudo fica mais evidente no momento da escolarização.
Os profissionais que acompanham a criança nesse diagnóstico são: Médico pediatria e/ou neuropediatra, terapeuta ocupacional, psicólogo e fonoaudiólogo. Posterior, podem agregar à equipe o psicopedagogo, fisioterapeuta, equoterapeuta, treinador funcional, entre outros.
Cada profissional seguirá a sua abordagem e utilizará de seus protocolos/observações para realizar o parecer terapêutico.
Terapia ocupacional no diagnóstico do autismo
Deixo aqui uma breve fala sobre a profissão do terapeuta ocupacional. Aproximadamente 95% das crianças com autismo apresentam Disfunção de Integração Sensorial (DIS) e enfrentam dificuldades nas Atividades de Vida Diária (AVDs). O terapeuta ocupacional é o profissional capacitado para fornecer um parecer terapêutico amplo e eficaz nessas áreas.
A integração sensorial, uma abordagem terapêutica crucial para crianças com DIS, deve ser realizada exclusivamente por terapeutas ocupacionais. É fundamental que essas crianças tenham acesso a essa terapia para melhorar sua qualidade de vida e funcionalidade diária. Entre os protocolos mais utilizados pelos terapeutas ocupacionais para avaliar possíveis alterações sensoriais estão:
- Perfil Sensorial (Sensory Profile): Um questionário que ajuda a identificar padrões de processamento sensorial em crianças.
- Medida de Processamento Sensorial (SPM – Sensory Processing Measure): Avalia o funcionamento sensorial em diferentes contextos, como em casa e na escola.
- EASI (Evaluation in Ayres Sensory Integration): Um conjunto de ferramentas de avaliação que mede a integração sensorial conforme desenvolvido por Ayres.
- Observações Clínicas: Técnicas de observação direta usadas para identificar respostas e comportamentos sensoriais em ambientes naturais.
Símbolo do TEA e data de conscientização
O quebra-cabeça é amplamente reconhecido como o símbolo do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Curiosamente, ele foi adotado em 1963 pela National Autistic Society, e desde então tornou-se mundialmente conhecido. Este símbolo incorpora questões de complexidade, inclusão e diversidade, refletindo as variadas manifestações do autismo e a importância de cada peça para formar um todo completo e inclusivo.
O Dia Mundial de Conscientização do Autismo é celebrado anualmente em 2 de abril. Esta data tem como objetivo aumentar a conscientização sobre o TEA, além de promover a inclusão e os direitos das pessoas com autismo. A celebração desse dia busca educar o público, reduzir o estigma e apoiar as famílias, além de incentivar a pesquisa e celebrar as conquistas das pessoas com TEA.
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